Patita Feia

"Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade." - F.P.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Mamã vem pra casa!!!

Será desta?
Findo um mês de internamento?
Dezenas de tac's, r-x, endoscopias e outras scopias depois que ela vem para casa?!

Facto é, deixaste de fumar e perdeste peso!
Inveja a qualquer pessoa! (Mamã, foste tu quem o disse...não é humor-negro, já é alívio e leveza...!!!)

Mamã, vens para casa!!!

Mamã, amanhã terás a casinha limpa, comidinha caseira e a bicharada toda feliz e contente por ter ver (incluí-me a mim e à Mana!)

Mamã, tou feliz!
Vão acabar as idas e voltas ao hospital à hora de almoço (também emagreci, Mamã, nem tenho almoçado.....eh eh eh)
Vais deixar de comer aquela comida sensaborona e insonsa!
Vais dormir dormir dormir sossegadinha na tua cama! Ninguém te vai acordar às 06:30 para te tirar sangue!


Mamã, como vês, até estou parvinha!
É felicidade!

Agora te digo... se eles não te dão alta o mais tardar amanhã..............
Vou fazer um abaixo-assinado e uma manif!!!
Grrrrrrrr!!!
Mas esqueçamos isso... porque tu vens para casa!!!

AMO-TE!


segunda-feira, outubro 25, 2004

Against all odds...

Contrariamente ao que toda a gente pensa - inclusivé eu própria - ainda penso em ti.

Ainda me lembro do teu cheiro.
Ainda sinto a tua pele colada à minha.

Ainda sorrio ao me lembrar da enorme cumplicidade que nos un-e-ia.

Ainda dói quando recordo os planos, sonhos e expectativas a dois.
Ou a uma para dois.

E foi isso que nos separou.

Foi ter chegado a um ponto em que eu sonhava, vivia, amava e lutava por dois.

Hoje, passado um ano de ruptura, sei que voltava a fazer o mesmo. Não sei ser de outra maneira. Não me arrependo de um único segundo contigo. Porque forma passados a sorrir. A Amar. A sonhar. A viver.

Hoje, passado um ano como um dia, sei os teus passos de cor, o sabor do teu beijo e o arrepio do teu toque.

Hoje, passado um ano, não sei se te continuo a querer, se quero das asas ao querer-te, se é só um reflexo de não gostar de estar sozinha, se é por saber que te lembras de mim de uma maneira que eu julguei só minha ou se te quero ferverosamente porque acredito que sim.

Como acreditei desde a nossa primeira troca de olhares.

Não sei.
Mas que continuas intocável nas minhas lembranças, continuas...

Mesmo contra todas as possibilidades.
Mesmo contra todas as expectativas...

sexta-feira, outubro 22, 2004

Miauuuuuu!


"Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également dans leur mûre saison
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.

Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.

Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;

Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques."

Charles Baudelaire - "Les fleurs du mal" (1857)

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Tenho três gatos.
A Marijuana, a Bianca e o Tomé.

A Marijuanita é ensimesmada.
Fria e acutilante como só os gatos sabem ser.
Poderosamente desligada. Ou antes, independente.
Não suporta que lhe tirem o lugar ou que a importunem.
Não tolera que se metam na sua via.
A minha Mana adoptou-a instantaneamente. foi oprimeiro felino a entrar na nossa vida depois de muitos anos.
A Mana obviamente que se apoderou dela. Obviamente, porque ela é tudo aquilo que ela não é. A Livre Marijuana.


A Bianca apareceu cerca de um ano depois. Ainda não a tinha imaginado, já ela tinha nome. Bianca. Bi-an-ca. Soa-me bem. Soa-me a pureza. E assim se constatou. Linda, pura e muitas vezes absorta. Tantas quanto não seria de esperar de um gato.
Pensei que fosse a Bi-an-ca a gata que me desse o prazer da sua companhia. Do colo quentinho. E foi. Da minha Mãe.
A Bianca é despassarada, mimada e muito fofinha.
Tem o miar mais doce que já ouvi. Nem mesmo os gatinhos pseudo-perfeitos dos desenhos animados têm um miar tão delicodoce.

E o Tomé. Caído do Céu. contra todas as expectativas, contra toda a vontade da minha Mãe, veio para cá.

Assisti a uma discussão entre a minha Mãe e a minha Mana. mais gatos não! Não! Não, não e não!
Três gatos seria demais.
A minha Mãe soava obstinadamente determinada.
NÃO.
Eis que poucas semanas depois, a minha Mãe, à hora de almoço, contrariamente à sua rotina diária, instintivamente percorreu o seu caminho por outra rua. Um mio assustado e assanhado ecoou por toda a rua. Uma transeunte tentava dar uma fetinha a um pequenito gato abandonado, sujo de pó e fumo dos carros, magro das privações e assanhadíssimo.
A minha Mãe aproximou-se e ele instantaneamente ronronou e se roçou nas suas pernas.
Quebrou-se-lhe o coração tal e qual como se quebrou a regra do "mais gatos não!"
Apesar de todas as tentativas para lhe arranjar um lar, acabou por o trazer para o nossos...

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que o vi. Assustei-me. Totalmente inesperado.
Apaixonei-me naquele mesmo instante. Tão pequenino e frágil.
Posteriormente adoptou-me.
É lindo, mimadão e assustadiço.
Nunca aparece na presença de estranhos ou indesejados.
Tal e qual como eu.

Às vezes faz aquele olhar de abandonado...frágil, vulnerável e doce.
Tal e qual como eu.

Mas subliminarmente.
Para que não seja qualquer um a notar. a sentir a vulnerabilidade. a sentir o cheiro do medo de ser invadida. de ficar sem privacidade.
Por isso, o Tomezão - Princeso - Estrela da Manhã se esconde.
Tal e qual como eu.

Mas ele não pode passar o resto da vida a esconder-se.
Nem eu.

O Bilhete n.º 66

Embarco na gare do Oriente.
Finda uma semana esgotante de trabalho, o meu primeiro pensamento ao entrar no InterCidades é pedir a todos os santinhos para que ninguém se sente ao meu lado. Estou cansada, tenho um fdsemana prolongado pela frente que se adivinhamente optimamente interminável e quero chegar a Campanhã fresca e pronta para o que der e vier, pois sei que a noite vai ser longa.

Logo, mal chego ao meu lugar no comboio, deparo-me com uma senhora sentada no meu lugar. À janela. Só gosto de ir à janela. Tanto dá para apreciar a paisagem linda até ao Porto, como dá para me encostar e passar pelas brasas um bocadinho...

"Ok, vais aí desde que não abras a boca... Cedo-te a minha janela pelo teu silêncio", pensei para mim e para comigo.

O "Boa tarde" cordial chega. Não tenho pachorra para conversas circunstanciais. Nunca tive. Detesto falar sobre o tempo. Sobre o que vou fazer ao Porto. Nunca ninguém se satisfaz com a minha resposta: "Apeteceu-me!".
Apeteceu-me. Pronto. E depois?

Ok. Silêncio. Absoluto.

Que findou mal se ouviu: "Então, vai para o Porto?"

Xiça! Este comboio pára em tantas estações! Porquê logo o Porto?

Ok. Respondo segundo as regras de boa-educação que sempre tive.

"Sim, vou"
"E então?"

"E então"?! Que raio de pergunta! Só me apetece responder "E então pronto!!!"

Que mais?
Ok, refreio todo o meu mau-feitio que vinha já preparado para o "então pronto" e respondo.

"Vou lá jantar"
"Ah...jantar...e onde?!"

Epá, não sei. Xiça! Sei lá! Preocupa-me mais a fome na Somália que onde vou jantar hoje. Vou jantar com amigos. É isso que interessa. com amigos.

Ok...
Quer saber...?

"vou jantar com amigos. E amanhã vou para Cinfães do douro. Pronto, é isso, vou parar no Porto para jantar e depois sigo viagem."

Ok... Pensa aí....Faz as contas que quiseres.

Entretanto, embrenho-me numa troca de sms com o meu patrão que está em terras Tailandesas. Uns momentos, eu e o telemóvel. Sozinhos.

Ok, continuando...

Está bem. eu converso contigo.

É uma mulher com bom aspecto. Parece-me solteira. Quiça professora, devido ao tom curioso na voz dela. Não sei. Tem ar de Mãe. Calma, mas cansada.

Olho-lhe nos olhos.
Tem luz nos olhos.
Tem uma expressão feliz.
Como quem está de bem com a vida.

Começamos a conversar.

Fluímos como se estivéssemos sozinhas naquela carruagem.

Santarém.

Eis que entra um homem para o qual era impossível não olhar.
Estilo descontraído mas extremamente composto e de bom gosto.
Gostei do conjunto. Camisa branca branca branca sobre uma pele moreníssima. Sorriso branco como a camisa. Olhos vivos. Mãos perfeitas.

Ok. Passa por nós. Olha olha olha e olha...para ver os números dos lugares.
Segue em frente.

Fátima.
O enigmático homem é abordado por uma senhora. "O Sr. está no meu lugar.". Levantou-se e procura outro lugar. Senta-se e recomeça a ler a revista que tem como companhia.

Pombal.
Interpelado pela segunda vez. Estava outra vez no lugar de alguém.
Eis que se dirige... a nós?!
"Uma das senhoras está no meu lugar."

Olhámos incrédulas uma para a outra. Primeiro porque não acreditávamos que nos tivéssemos enganado no lugar. Nem ela, nem eu. Segundo, porque não acreditávamos que este homem com pinta de galã se tivesse dado ao trabalho de andar a saltitar de um lugar para o outro, só para não nos incomodar.

Ok... Abrir malas, abrir carteira, tirar bilhetes.
Ambos com o mesmo número. N.º 66. Mesma carruagem. Mesmo comboio.
Espanto estampado nos três rostos.

Como resolver a situação?! O que teria causado esta "coincidência"? (eu não acredito em coincidências, mas vá lá...)

Uma senhora perto de nós, aprecebendo-se da situação, cedeu-lhe o lugar. Sairia em Coimbra.
Ele sentou-se, abreviando por minutos a tentativa de resolução do mistério.

Coimbra B.
Ele tem de se levantar de novo. Alguém que entrou nesta estação tem bilhete para aquele lugar.

Vem para perto de nós.

Entre risos incrédulos pela estranha situação e olhares curiosos de como aquilo teria acontecido, seguimos viagem...
Eu fui alternando com ele o assento, pois a Mulher-MãeProfessora tinha maleitas que a impediam de estar muito tempo em pé.
Rimo-nos a três pelo caricato da situação.

A Mulher-MãeProfessora, eu e o HomemGalãdasMãosBonitas.

Até chegar o revisor.
Expusémos-lhe a situação.
Erro técnico.
O sistema a falhar de novo. Sobreposição de bilhetes.

Eis que a solução é o HomemGalãdasMãosBonitas ir para um lugar de 1ª Classe, pois não estavam todos ocupados.

Ficou mais um bocadinho. O tempo de um cigarro meu.

Voltámos à nossa conversa ocasional e obviamente que, sendo mais nova, fui a bombardeada com "Ai tão charmosos", "Ai tão bem formado", "Ai que bom partido". Sim. Assenti a todas as afirmações.
E deixei-me levar pelo meu lado feminino e embrenhámo-nos em risinhos abafados e olhares cúmplices.

"Mas também não vamos passar o resto da nossa viagem a falar dele!".

Claro que não!
Claro que sim!

Após breve introdução de conversa socio-económica literária política e religiosa (vulgo, desbloqueadores de conversa de nível mais elevado...), vem o HomemGalãdasMãosBonitas à baila.

"E se fôssemos ter com ele?"
Porque não...?

Afinal, Campanhã adivinhava-se a poucos longos minutos de distância, e consequentemente a rotina das nossas vidas também.

Armas e bagagens rumo à 1ª Classe.

O HomemGalãdasMãosBonitas, a Mulher-MãeProfessora e eu.
Os três a rir como crianças. Sentimento inigualável. Pela leveza. Pelo não-compromisso. Pela espontaneidade.

Seguimos até ao Porto, desta feita em 1ª Classe, eu confortavelmente instalada e a Mulher-MãeProfessora a olvidar-se das maleitas que a assolam e a acocorar-se junto do HomemGalãdasMãosBonitas em amena cavaqueira!

Gaia. A Mulher-MãeProfessora quase se esquece de saír. Não sem antes fazer questão que trocássemos todos os respectivos contactos.
Fui a cavaquear entre ruborizar de faces, com o HomemGalãdasMãosBonitas até Campanhã.

(Homens bonitos seguros lindos e educados é que todas as Mulheres sonham... e a mim, nesta fase, intimidam-me.........que parvoíce!)

Saímos.
Entreolhámo-nos.
Despedimo-nos.
Beijámo-nos. Na face. Óbvio.

Até breve.

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Qual não é o meu espanto, quatro dias volvidos, ao comprar o bilhete Campanhã-Oriente, quando reparo que é exactamente o mesmo n.º que começou tudo?

Mais uma vez.

Bilhete nº 66.

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Continuo a não acreditar em coincidências.

Acredito que este episódio me aconteceu por alguma razão.

Quanto mais não seja para renovar a minha Fé na Humanidade.
A olhar para os rostos. Para ver as vidas com as quais a minha se cruza.
Para sorrir.
Para me lembrar que, por muito mal que me tenha corrido o dia, vale a pena sorrir.
Porque pode haver alguém que esteja a olhar para mim.
E um sorriso gera outro sorriso.

Para pensar...e sorrir!



terça-feira, outubro 19, 2004

Espero...

Espero.
Desespero.
Exaspero.
Dilacero.
Recupero.

Escrevo.
Apago.
Risco.
Espero.
Leio.
Releio.
Tão feio.
Risco.
Espero.

Olho.
Vejo.
Observo.
Raciocino.
Desatino.
Não gosto.
Desgosto.
Rei-Posto.
Rei-Morto.
Rei-Torto.
Rei-Não.
No coração.
Abro a mão.
Vazia.
Só coração.
Fecho a mão.
Só o coração.

Na mesma.
Como a lesma.
Sozinha.
Com a minha escritinha.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Esperança...

18.10.2004 – 22:38

Consigo sentir o cheiro verde e rosa da Esperança longínqua...

Já se vislumbra um desfecho feliz para este episódio.

Já há diagnóstico, logo já há tratamento.

Tempo.
Mais tempo.

Paciência.
Mais paciência.

E Amor. Sempre e definitivamente Amor.

(Mãe, isto é tão difícil de gerir...este sentimento de impotência...!!!)

Porque é o que nos une.
Desde sempre e para sempre.

sábado, outubro 16, 2004

Sozinha, mas de sorriso nos lábios...

Entro em casa.
Sozinha.

Tiro o casaco, componho o lenço ao pescoço, mistura de motard e tuaregue, ponho o meu chapéu de batalha psicológica e esvazio o saco das compras.
Copos.
Comida para gato.
Vinho tinto.

Abro a garrafa cerimoniosamente.
Silenciosamente.

Respiro fundo como o vinho.

Ligo o rádio.

Fecho a porta da cozinha. Abro a janela da varanda.

Olho para a paisagem calma e verdejante que não vejo. Respiro o ar puro que não existe entre o betão e o vislumbrar dos terraço e janelas dos meus quase desconhecidos vizinhos.

Estendo a roupa acabada de lavar.
Cheira a amaciador cor-de-rosa e a Verão.

Aquele que já partiu.

Os jeans curtos...os tops da praia...a camisola daquela noitada no Porto. O decotado preto da cataplanada. O vermelho manchado de vinho...tinto como o que bebo agora.

Dar comida aos gatos. Ronrons interesseiramente esfomeados.

O cão ladra. Também quer atenção. Mimos.

As pessoas são como os gatos ou como os cães.

Ou ronronam interesseiramente ou ladram directa e sonoramente.

Tema para escrever num outro dia...

Agora resfastelo-me no sofá verde, a deliciar-me com pizza caseira, silêncio e vinho tinto.

Casa limpa, Mãe visitada e animicamente bem, bicharocos mimados e alimentados, Mana a visitar o namorado.

E eu... Com o meu livro a acompanhar-me no lento percorrer dos minutos como o vinho pela garganta.

Às vezes, a vida pára e eu respiro-a deliciosamente.

Às vezes, no meio de tudo que se assemelha a caos, há um fugaz momento de calma e efémera felicidade nos pequenos nadas...

quinta-feira, outubro 14, 2004

Dia após dia...

Frustração.
Palavra que ecoa por todos os meus neurónios.
Inércia obrigatória.
Clamor de boca fechada.

Impotência.
Quere agir e logo me sentir de pés e mãos atadas. Não poder fazer nada. Não haver nada que eu possa fazer.

Só me resta esperar.
Em angústia que me envolve a Alma.
Em frustração diária.

O lento passar dos dias, embora agitados, mói mói mói...Devora-me lentamente as forças.

A força que tenho para os outros, essa mantém-se inalterável. Sou eu o elo de ligação entre a frustração compartilhada e a esperança que tento incutir mais do que a que sinto.

São palavras de Esperança que saiem da minha boca, mas são palavras de frustração, espera desesperada e tristeza que ecoam na minha cabeça...

No meu Espírito? Um misto insípido de Fé e desalento que me deixa a pairar entre mim e mim mesma...

O frenesim diário das visitas ao Hospital e do meu trabalho não me permitem divagar muito. Parar para pensar.


E é nestes breves minutos em percorro o trajecto entre o Hospital e o escritório que me faz afluír um suspiro mais profundo, ansioso, esperançoso e dorido.

Cheguei à minha estação. Saio. Acelero o passo para não chegar ainda mais tarde.
Para me poder embrenhar em trabalho...

Para não parar e ter de pensar.

Ainda não.

Depois.

Quando tudo terminar.

Em bem, espero...

domingo, outubro 10, 2004

“Só no meio da multidão...”

Levitando entre as minhas incertezas e existências, deparo-me com uma das piores situações que se pode viver.

Sentir-me só.

Estar só sem ser por opção.

Estar rodeada por imensa gente. Por pessoas que outrora fizeram sentido. Por pessoas que fizeram parte do meu quotidiano um dia.

Há milénios atrás.
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Ver os mesmos rostos.

Retribuir os mesmos sorrisos amarelos, filhos da circunstância e do protocolo social.

Ver os mesmos gestos, repetidos até à exaustão, sem configurarem algum sentido na minha existência.

O mesmo sítio, as mesmas pessoas, a mesma música (?!), as mesmas conversas, as mesmas circunstâncias, a mesma marca de tabaco, a mesma bebida.

Há coisas que nunca mudam. Mas que talvez devessem mudar...
Obviamente, na minha perspectiva.

Mas deve ser devido à diferente marca de colírio que eu uso...

Terá sido a minha perspectiva a mudar?!

Será por ter sido eu a que correu seca-e-meca, visto e vivido, saído daqui, e daí ter uma observação diferente das coisas, das pessoas, das situações?

Amo e odeio esta palavra. DIFERENTE.

Uso-a frequentemente.
Quando se me apresenta algo novo, algo que mexe com o meu âmago, é DIFERENTE.

Ao ver uma passagem de modelos, onde a maioria dos modelos e veste praticamente abominei, ao depara-me com a pergunta: “Então o que é que achaste?, respondi “Foi diferente”.

NÃO GOSTEI.

Podia ter sido (mais uma vez) directa e frontal. Ou bruta e insensível, consoante o ponto de vista.
Deveria ter dito: “NÃO GOSTEI”.

Achei uma fantochada. Estava tudo amontoado. Descoordenado. Desorganizado. Desorientado.

Mas ao responder isto, incorria no ainda maior risco de ter de me justificar. Coisa que faria imediatamente mesmo que não me fosse solicitado.

“Porque são capazes de fazer melhor. Porque acredito que o são”

Acredito.

Mas...
Eu, leiga e velha nisto, para que é que serviria a minha opinião?

Afinal, o rótulo de eterna insatisfeita sempre me ficou tão bem!!!



Ficará sempre como uma “boca da reacção”.
Ficarei sempre como a Inconformada. A Diferente. A fora de onda. A Só. A gargalhada efusiva de olhar triste.

A Patita Feia.

Poderia alegar que sou feliz assim. Diferente. Mas não o faço. Porque não o sou. Pelo menos na plenitude de o poder alegar. Porque procuro incessantemente algo no qual me encaixe.

Num partido. Numa religião. Numa crença. Num grupo. Numa associação. Num estilo de vida. Num ideal.

Mas tenho consciência de que, tal como até agora, não me sentirei parte de nada, de um todo. Tal e qual como peixe na água.

Possivelmente, é egoísmo.
Não quero ceder a minha individualidade em prol de algo homogéneo mas insípido.

Isso não.
Jamais.

Se o preço a pagar for ficar só... então somo, subtraio e equaciono...
Provavelmente vou por aí.
É onde me levam os meus próprios passos!

sexta-feira, outubro 08, 2004

Tou que nem posso...

Queria escrever.
Escrever, escrever, escrever...

Deixar-me fluír...

Queira ter a inspiração necessária para contar tudo o que vi, vivi e senti neste fdsemana prolongado.
Transmitir a paz de espírito que obtive. A sensação pura de liberdade de passear nos montes e vales típicos da paisagem nortenha. Do fresco do rio Douro. Da homogeneidade do rio Bestança quando aflui no rio Douro. Do verde de cortar a respiração. Dos tons pré outonais que já salpicam a paisagem. Para onde quer que se olhe, vislumbra-se sempre calma e pequenos milagres da natureza.

Queria escrever.
Descrever a imensa hospitalidade com que fui tratada. Todo o calor humano que me envolveu como se fizesse parte da família há milénios. Como se fosse um filho pródigo a voltar a casa.

Toda a partilha, a emoção à chegada e ainda mais à partida. Das lágrimas a caírem ao apanhar o comboio em direcção a Campanhã...

Falta-me inspiração. Vontade.

A minha Mãe está internada.
Já lhe mostrei as fotos lindas lindas lindas que tirei.
Já lhe contei as peripécias que me aconteceram pelo caminho...
Já sorriu.
Já chorei.

Congratulo-me por ser uma pessoa minimamente equilibrada.
Por a minha Mãe ser uma pessoa extremamente equilibrada.

Se eu tivesse na posição dela, internada sem diagnóstico nenhum, sem se saber o que tem, num hospital público, sem perspectiva de saída... eu dava em maluca.
Se é que já não ando...
O meu trabalho tem sofrido com isso. A minha produtividade é nula.
Eu e a minha Mana alternamo-nos nas tarefas diárias (xiça...tem mesmo de ser todos os dias?!). Vá lá...tem corrido sem discussões de maior...

A minha Mãe tem uma força sobre-humana.
Força de vontade.

E se ela tem força e fé, porque haveremos todos de andar mal?
Por auto-comiseração? Por pena de nós próprios? Porque nós sofremos?
Deve ser...................

Ao menos à minha Mãe não lhe tme faltado mimos, visitas, sms e milhentos telefonemas... ao contrário de muita gente que lá está internada... (imensa, ultrapassa os limites do bom senso tanta gente SÓ!)

Vou lá agora.
Dar um beijo e dizer-lhe que a AMO. Com todas as forças e até ao fim do Mundo.


quinta-feira, outubro 07, 2004

Poema do Silêncio – José Régio

"Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome."

sexta-feira, outubro 01, 2004

Fim de semana prolongado

Resisti à tentação de marcar as férias todas de uma assentada, pois o mais provável seria nem conseguir tê-las todas seguidinhas.
Marquei uns diazitos assim, encostados aos fins de semana ou entremeados com feriados.
Segunda feira, para grande desgosto dos meus colegas, não estarei a trabalhar. Eles sim.
C'est la vie. Às vezes é para uns, outras para outros...

Aproveitarei para passear. Pelo Norte desconhecido. De mochila às costas. De comboio.

Sem medos.

Há que aproveitar. O tempo está óptimo. A vontade é muita. A boa disposição também. Uns laivos de ansiedade. Mas sei que vou gostar.

Tenho comboio daqui a meia hora. Friozinho no estômago.





Falta de vergonha

Ainda estou a tremer. De nervos. De raiva. De asco.

Um carro aborda-me na rua.
Um informação, por favor.

Embrenho-me em detalhes, de modo a dar a informação da maneira mais completa possível.

Fecho das calças aberto.
Aquela coisa nojenta mole de fora.

Se quer assediar alguém, porque é que não vai assediar a puta da mãe dele?

Os nervos toldaram-me o discernimento, pois os vómitos não me permitiram tirar a matrícula.
Ia até ao inferno atrás dele só para lhe cuspir na cara.
Na puta da cara onde não tem vergonha.

Puta que pariu estes pseudos-homens.