Miauuuuuu!
"Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également dans leur mûre saison
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.
Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques."
Charles Baudelaire - "Les fleurs du mal" (1857)
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Tenho três gatos.
A Marijuana, a Bianca e o Tomé.
A Marijuanita é ensimesmada.
Fria e acutilante como só os gatos sabem ser.
Poderosamente desligada. Ou antes, independente.
Não suporta que lhe tirem o lugar ou que a importunem.
Não tolera que se metam na sua via.
A minha Mana adoptou-a instantaneamente. foi oprimeiro felino a entrar na nossa vida depois de muitos anos.
A Mana obviamente que se apoderou dela. Obviamente, porque ela é tudo aquilo que ela não é. A Livre Marijuana.
A Bianca apareceu cerca de um ano depois. Ainda não a tinha imaginado, já ela tinha nome. Bianca. Bi-an-ca. Soa-me bem. Soa-me a pureza. E assim se constatou. Linda, pura e muitas vezes absorta. Tantas quanto não seria de esperar de um gato.
Pensei que fosse a Bi-an-ca a gata que me desse o prazer da sua companhia. Do colo quentinho. E foi. Da minha Mãe.
A Bianca é despassarada, mimada e muito fofinha.
Tem o miar mais doce que já ouvi. Nem mesmo os gatinhos pseudo-perfeitos dos desenhos animados têm um miar tão delicodoce.
E o Tomé. Caído do Céu. contra todas as expectativas, contra toda a vontade da minha Mãe, veio para cá.
Assisti a uma discussão entre a minha Mãe e a minha Mana. mais gatos não! Não! Não, não e não!
Três gatos seria demais.
A minha Mãe soava obstinadamente determinada.
NÃO.
Eis que poucas semanas depois, a minha Mãe, à hora de almoço, contrariamente à sua rotina diária, instintivamente percorreu o seu caminho por outra rua. Um mio assustado e assanhado ecoou por toda a rua. Uma transeunte tentava dar uma fetinha a um pequenito gato abandonado, sujo de pó e fumo dos carros, magro das privações e assanhadíssimo.
A minha Mãe aproximou-se e ele instantaneamente ronronou e se roçou nas suas pernas.
Quebrou-se-lhe o coração tal e qual como se quebrou a regra do "mais gatos não!"
Apesar de todas as tentativas para lhe arranjar um lar, acabou por o trazer para o nossos...
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que o vi. Assustei-me. Totalmente inesperado.
Apaixonei-me naquele mesmo instante. Tão pequenino e frágil.
Posteriormente adoptou-me.
É lindo, mimadão e assustadiço.
Nunca aparece na presença de estranhos ou indesejados.
Tal e qual como eu.
Às vezes faz aquele olhar de abandonado...frágil, vulnerável e doce.
Tal e qual como eu.
Mas subliminarmente.
Para que não seja qualquer um a notar. a sentir a vulnerabilidade. a sentir o cheiro do medo de ser invadida. de ficar sem privacidade.
Por isso, o Tomezão - Princeso - Estrela da Manhã se esconde.
Tal e qual como eu.
Mas ele não pode passar o resto da vida a esconder-se.
Nem eu.
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