Patita Feia

"Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade." - F.P.

terça-feira, outubro 25, 2005

Amor, Voluntariado, Fé e muita Morfina...

Querida Amanda,

Acredita que o papel dos voluntários no IPO é extremamente fundamental, senão na recuperação, pelo menos na apaziguação de certas dores, concretamente nas da Alma - as piores de todas.

Aquando o internamento da minha Mãe, entre dezenas de voluntárias que fomos conhecendo à medida que o tempo foi passando, houve uma que destacou pela sua Luz.

Isabel de seu nome, esta senhora emanava energia de uma maneira indescritível.
É preciso ser forte para ser voluntária. E é preciso acreditar na força que temos dentro de nós.
Eu chamo-lhe Amor.
A Isabel chama-lhe Luz.
As outras voluntárias todas chamavam-lhe Deus. Whatever.
(Sei que após a morte da minha Mãe, Deus não anda onde devia andar, a luz é cara mas o gás ainda mais, mas o Amor continua. Imbatível e eterno.)

A Isabel só ia ao IPO uma vez por semana, quase o suficiente para iluminar aqueles quartos, aquelas dores, aqueles semblantes sofredores. Mas vinha. E cantava. E embalava. E ria. Ria como se tudo fosse cor-de-rosa.
Tratava os pacientes como se sua família fossem.
A minha Mãe adorava-a. Com ou sem morfina. Ao chegar ao fim, já mal a reconhecia. Tratava-a por qualquer outro nome. E a Isabel não se importava. Combinaram ir a Fátima se a minha mãe recuperasse, se bem que nas palavras dela, a pé nem pensar, já experimentei, está experimentado! E a Isabel disse que iria da maneira que a minha Mãe quisesse.

Eram extremamente parecidas.
O trajecto de vida, os sofrimentos, os divórcios, os filhos criados sem ajuda de ninguém.

A Força.
Era a Força que tinham que emanava e contagiava. Que brilhava!

Na boca do staff hospitalar, a minha Mãe foi considerada das melhores pacientes. A mais paciente...
Porque aceitou o cancro. O destino.

E passava os minutos todos da visita da Isabel a falarem de tudo... menos do cancro. Porque essa palavra é proibida no sítio onde mora. Os pacientes do IPO não têm cancro. Têm melanomas, carcinomas, linfomas, e outros omas assim... E assim como não têm cancro, muitos também nem Esperança têm.

Daí o papel fundamental do voluntariado de mãos dadas com a família/amigos.
Mas nada se faz se o paciente não aceitar e não acreditar.

Amanda, sugiro que faça uma formação de voluntariado e vá. Mas vá de coração aberto.
Porque definitivamente aquilo não é nada fácil.
Eu que o diga, que embora não sendo voluntária nem tampouco formada em qualquer arte, lá passei tempo "demais", pouco muito pouco para ajudar aquilo que queria ajudar.

Não só com a minha Mãe, porque pode-se ser egoísta na Dor, mas não se é com o sofrimento alheio.

Pacientes sozinhos - demais. Sem carinho - demais. Sem companhia - demais. Daí o papel fulcral dos voluntários, mais que atenuar dores d'Alma, atenuar a solidão, que é chaga aberta em muitos corações. No IPO e por este mundo fora...

Um beijinho desconhecida Amanda. E força!

sexta-feira, outubro 21, 2005

Que queridas!

Por acaso andava com saudades de gajices...

segunda-feira, outubro 17, 2005

Ouvido de passagem...

"Quando é que muda a hora?"

"Daqui a 7 minutos, são neste momento 17:53, passará das 5 p'rás 6...!"

(...)

sexta-feira, outubro 14, 2005

Ser Tuga é...

Desenrascanço

(From Wikipedia, the free encyclopedia.)

"Desenrascanço" is a Portuguese word used in common language in Portugal, to express an ability to solve a problem without the adequate tools or proper technique to do so and by use of sometimes imaginative resourcefulness when facing new situations. Achieved when resulting in a hypothetical good-enough solution. When that good solution escapes us we get a failure ( enrascanço - entanglement). Most Portuguese people strongly believe it to be one of the their most valued virtues and a living part of their culture.

(Mainada!)

quarta-feira, outubro 12, 2005

Porque é que detesto o Inverno em Portugal?!

... porque as poças têm uma tendência incrível para estarem nas bermas das estradas e à beira das passadeiras...
... e quando chove, os automóveis têm uma tendência natural para passar a alta velocidade por cima das poças...! Incrível!

(São 9 da manhã e estou toda encharcada... mas também, realmente, quem é que me manda atravessar a estrada mesmo ali na passadeira?!?!!?)

terça-feira, outubro 04, 2005

Plantei-te narcisos amarelos num vaso laranjex como gostas.

Contei os minutos todinhos até à meia-noite para te dar um beijo enorme de Parabéns.
Temos um jantar e bolinho surpresa sem sequer fazeres a mínima ideia...

Quando dizes firmemente que não queres festejar o teu 24.º Aniversário, o teu semblante triste é traído somente pelo brilho dos teus olhos, independentemente da dureza dos teus lábios a proferir a palavra "aniversário".

É o primeiro aniversário que passas sem a Mãe.
Como eu te compreendo minha querida Mana...
Como eu compreendo essa angústia dilacerante...!

No entanto, se olhares à tua volta, acharás todos os motivos válidos para celebrares a Vida todos os dias!
Terminaste a tua Licenciatura contra todas as expectativas. Cresceste. Mudaste de casa. Cresceste. Tens toneladas de amigos que te adoram e te apoiam. Tens a tua família, és a "pequeninha" de todos.
E és linda. Linda.

Esse olhar doce e meigo contrasta com o teu coraçãozinho fechado, esse coração do tamanho do mundo, que acolhe toda a gente, que está sempre pronto para ajudar, que quer viajar até África e dar amor amor amor....
Esse coração que tem uma ferida que Mana desculpa! nunca vai sarar!

Mas decerto que vai atenuar...
E para isso, é preciso comemorar todos os dias o facto de estarmos vivos!

De sorriso aberto e franco.
Como o teu, minha doce Mana.

Parabéns minha pequenina, e que os narcisos floresçam incólumes e fortes como deveria ser a tua vida...

(Nota: A minha Mana passou o 23.º aniversário o ano passado ao lado da nossa Mãe acamada no Hospital...)