06.09.2004
Ao Diamante Nortenho em bruto:
A névoa paira sobre o Castelo. O ar frio entranha-se pelas pedras e pelos ossos...
O cinzento da paisagem é sombrio e frio...
Montes e vales até onde a vista alcança...Cinzentos. Frios. Vazios.
A neblina húmida adensa-se e cai sobre o Castelo, como se um manto de lã molhada e pesada se tratasse...
Subitamente, um raio de sol consegue finalmente rasgar o céu pesaroso de nuvens negras.
Uma tímida borboleta esgueira-se entre as giestas e rosmaninhos, também estes hesistantes em exalar o seu perfume...
Um botão de rosa, pequenino e quase e escondido, teima em desabrochar e mostrar a sua cor viva e límpida...
O vento suspende-se.
O aroma adocicado das mimosas começa-se a diluír nos fumos de chaminés dentro das muralhas.
Eis que surge no horizonte, um cavaleiro a cavalo em forte galope. Lá ao longe, consegue-se ver o seu esbracejar...
O eco do trotar do cavalo invade os campos, montes e vales. Homens e mulheres apressam-se às amuradas do Castelo e tentam deslindar que novas trará o cavaleiro.
Os pássaros páram subitamente o seu chilrear.
As flores páram de desabrochar.
O cavalo corre como o vento. Ouvem-se já perto os gritos do cavaleiro.
O raio de sol, como se cansado de lutar para passar as nuvens, estagna o seu romper.
Ouve-se finalmente, ofegante e cansado, o cavaleiro à imensa porta do castelo:
"Fechem tudo!!! Escondam-se e previnam-se! Vem aí! Vem aí! Pobres de nós!
Assim que eu entrar, tranquem tudo, o castelo, as vossas casas, os vossos corações! Vem aí!!! Vem aí...o Amor...!!!"
Silêncio total.
Impávidos e serenos, todos regressam às suas casas e, em gestos repetitivos e automáticos, trancaram e fecharam tudo. Aparentemente, não era a primeira vez que eram assolados por esse tal de Amor.
O raio de sol foi esmagado pelas pesadas e lúgubres nuvens.
As flores definharam.
Os pássaros voltaram aos seus recônditos ninhos.
As raposas novinhas voltaram às suas tocas, escondendo para sempre o fulgor da sua pelagem vermelho-fogo.
A borboleta morreu.
Um vento fresco e húmido levantou-se e espalhou-se por toda a Terra.
Começa a chover.
Alívio.
O Amor já tinha passado.
Impenetravelmente, o Castelo não foi assaltado ou sequer tomado. Triunfo!
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Mais uma vez, o amor não te tocou, Castelo Novo com semblante de Velho.
As tuas rugas em nada correspondem à tua idade.
As entradas no teu cabelo não são significado de Sapiência, mas ism de noites passadas em claro em procura incessante do Saber.
O teu corpo, outrora ágil e ainda apelativo, é delineado por contornos pesados e maciços, como se fosse o tronco de uma árvore centenária.
As palavras fluem-te da boca como se tivesses 1000 anos. Ásperas e secas.
Trai-te o olhar, somente.
O teu olhar permanece inalterável através dos tempos.
O brilho está lá, o brilho dos olhos de menino nuns olhos tristes, soturnos e cabisbaixos. Às vezes desafiantes. E cansados.
Mas ainda têm aquele brilho que um dia se cruzou com o brilho dos meus olhos de adolescente. Há anos atrás. Milénios.
Também agora um pouco Mulher cansada, mas a fazer questão de ainda saber sorrir.
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