Fluoxetina
Entre os afazeres domésticos, as saudades do meu Amor, a sopa maravilhosa de grão da Cristina e a pré-ansiedade "boa" do mega jantar de aniversário do Bu, cai-me o mundo em cima com uma enxaqueca brutal.
A do costume.
A que não me deixa pensar.
A que me tolda a tolerância.
A fotossensível.
O som, mais não, o som!
A do costume...
Entre consulta forçada da Mana no médico de família, o tal que eu não o reconheço se por ele passar na rua, o tal que mal tem anunciado o dia de consultas se gera logo uma amálgama de fãs, isto é, senhoras "extremameeeeeeeeeeeeente sofredoras de maleitas e coitadas e ai que vou morrer já e Sr. Dr. ai e acuda-me e que já nem sinto o coração e já não respiro p'ra mais de quatro meses"; o tal Sr. Dr. que é um mimo, um charme de primeira, naturalíssimo, "competentérrimo", supra-sumo dos médicos de clínica geral e mais além, o meu médico de família é um amor. É. Ponto. É.
Tem os paninhos quentes suficientes para não saírmos de lá a correr com morte anunciada.
Tem a abertura suficiente para aconselhar medicinas alternativas como complemento à sua posologia.
Tem uma memória de elefante (ou então nós ficámos-lhe na retina ad infinitum...) e não descura nenhum pormenor.
Manda fazer todos os exames possíveis e imaginários para não haver sombra de dúvida de nadica de nada.
É paternalista o suficiente para nos "dar na cabeça" no que é preciso e é Paternal o suficiente para nos sentirmos à vontade de deixar caír umas duas gordas lágrimas no consultório...
A Mana foi "entalada" à força toda - és mais parecida com o Pai do que pensas!!! - e levou com a panóplia toda de exames e siga p'rá frente.
As minhas maleitas, já eu as conheço de ginjeira, já aposto na prevenção, mas de facto há coisas que me ultrapassam, acho que afinal não posso nem devo controlar tudo à minha volta, nem sequer a vontade-própria do meu corpo.
Posso obrigar a Mana a seguir todo o processo: ir ao médico, aviar receitas e fazer os exames. E seguir, minha menina, não te escapas: Vais lá mostrá-los!
O que eu não consigo controlar em mim são somente duas coisas:
- O meu mau feitio e o meu prazer em fazer o que me dá prazer.
Logo aí, uma questão. As enxaquecas. Fonte inexorável e inesgotável de mau-feitio.
Não desculpam nada, mas a intolerância começa a ser factor dominante e que desencadeia um certo mal-estar geral à minha volta. Que nem eu me suporto.
O que provoca obsessões por escapes.
Escapes todos nós temos, fumar, fazer desporto, roer as unhas, rezar, qualquer coisa.
Eu como.
Eu como coisas boas.
Coisas prazeirosas.
Coisas boooooas.
Desde a morte da minha mãe, coincidentemente, engordei mais de 10 kgs.
Não tendo eu uma estrutura de modelo anoréctica, sempre me encaixei no típico perfil da Mulher Portuguesa.
ROLIÇA - tudo o resto sim, eu levo como ofensa.
E eis senão quando, o Doutor-Maravilha, me receita um fármaco milagroso que me vai suprimir esta obssessão, este escape e me impedirá de o substituír por qualquer outra coisa igualmente má. Et la pièce de résistance: Iria emagrecer!
Fiquei maravilhada, se bem que um pouco céptica por estar a ouvir aquilo que todos desejamos, isto é, uma maneira fácil, rápida e indolor de terminar com algo que me transtorna.
Pois o meu aumento de peso contribuíu para um mal-estar permanente com o meu corpo, com todas as subsequentes contrapartidas.
Corri à farmácia para "aviar" a tão miraculosa "Fluoxetina".
Deixei caír uma lágrima de desespero e frustração e pavor quando vi o rótulo do medicamento:
PROZAC
Acabei de chegar a casa e agarrei-me à bula.
Céptica, meti na cabeça que vou deitar esta merda pela sanita abaixo.
Comecei a ler a bula.
"Indicações Terapêuticas:
Episódios Depressivos Major.
Perturbação Obssessivo-Compulsiva.
Bulimia Nervosa: Prozac está indicado como complemento da psicoterapia destinada à redução da ingestão compulsiva e actividade purgativa."
Mal ele sabe da maleita que eu tive por volta dos 15 anos.
Na altura tinha aumentado substancialmente de peso e consegui perder cerca de 10 kgs em pouco tempo.
Comia, bem, como sempre comi, e vomitava tudo.
Tudinho.
Não sem antes me deliciar prazeirosamente com o que comia.
Estabilizei no peso que tinha anteriormente e acabei com a brincadeira.
Nunca ninguém soube. A discrição era primorosa.
E agora deparo-me com isto.
Vou experimentar.
E agarro-me à tábua de salvação que tens sido meu Amor.
Não me apetece chatices, vou mas é continuar a tentar ignorar a enxaqueca - se bem A conheço, ela será forte é amanhã - vou-me maquilhar, acabar a toilette e ir ao jantar do Bu.
Porque ele faz 31 anos amanhã e, Prozacs à parte, quero chegar ao 30 com a carola toda no sítio. Se o corpinho acompanhar, melhor!
Obrigado Francisco AKA Piloto Automático, pela fantástica frase:
831F bué hiper mega super ri-fixe totil power in the night street fight baby oh yeahhh!!!
Ou como quem diz "Amo-te muito".
2 Grasnados:
E, mesmo sem ser de propósito, regemo-nos a partir do que o nosso aspecto possa dizer. Não que seja mau. Mas as coisas que acontecem, que podem acontecer, são terriveis. *
Metade das dores de cabeça deste mundo é a falta desse "Amo-te muito".
;)
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