Patita Feia

"Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade." - F.P.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Medos...



Sempre foi o único medo que tive.
Aquele que petrifica e impede até de respirar.

Devidamente justificado, pois é trauma desde miuda.
Obviamente que tenho medo de aranhas.
Obviamente que sempre fui gozada à pala disso.
Principalmente nas férias Alentejanas, onde o calor faz com que estes seres se multipliquem de uma maneira quase inconcebível para mim. Para quê tantas? Para quê aumentar o meu terror?
Os meus primos e a minha irmã, "corajosos" porque conseguem tocar nestes seres (para mim) asquerosos, eram os maiores e passavam horas a engendrar planos para que eu apanhasse um susto com estes seres. E chorava desalmadamente.
Nunca ninguém percebeu a minha fobia.
Fobia.
Gela-me os neurónios.
Falta-me o ar.
Fico petrificada.
Dá-me vómitos por causa dos nervos.

Até que há bem pouco tempo a minha prima presenciou uma destas situações. Um ser destes, medonho e castanho e enorme e peludo, atravessou-se no meu caminho. Com todo o desplante, pareceu-me à frente.
Quando a minha prima me ouviu aos berros (coisa raríssima em mim, a bem da verdade), correu em meu auxílio e matou o ser.
Corri para a rua e vomitei. Tudo. O que tinha e não tinha.

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Descobri um medo maior.

O de sofrer.
Vejo a minha Mãe.
A angústia em que está.
As dores dilacerantes que lhe invadem o corpo e lhe modificam a cabeça.
As dores horrorosas que a fizeram tomar uma atitude e despedir-se de nós. De mim e da minha Mana.
Disse-nos que não tinha desculpas a pedir a ninguém.
Que tinha a consciência tranquila.
Que estava satisfeita ao olhar para trás e não se arrepender de nada.
Que nos amava e que todas as pessoas que ela amava o sabiam.
Porque ela sempre fez questão de o dizer e de o fazer sentir.

Despediu-se.
Disse-nos que não nos preocupássemos, pois ela não tinha medo de morrer.
Só de sofrer.

E eu nem quero pensar no mau que isso será.
Então tenho medo.
Que ela sofra.
Que eu sofra quando chegar à minha hora.
Que os que amo sofram.