Não há espiga!
Sempre tive este feriado.
Sempre "comemorei" o dia da espiga. Quinta-feira da Ascensão, para os mais cultos.
A minha Mãe agarrava nas Princesas que eram as filhas e íamos todas "pastar", como ela alegremente dizia.
Passávamos o dia inteirinho no campo.
Era mesmo ao lado de casa. De todas as casas onde morámos.
Entre papoilas e borboletas, lá nos ia explicando o significado das flores que tínhamos de apanhar para o raminho.
Espiga de trigo - Pão (como símbolo de alimento)
Papoila vermelha - Amor
Malmequer amarelo - Ouro
Malmequer branco - Prata
Raminho de Oliveira - Paz (Na versão Pagã original era Azeite - para alumiar as candeias)
Toda a espécie de flores silvestres cujo simbolismo ficava à mercê da nossa imaginação.
Adorava este dia.
Achava que era a versão campestre do dia da Mãe.
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Até que, aos 18 anos, vinda directamente da província para a Universidade na Capital, a quinta-feira da espiga foi no dia do meu aniversário.
Tristérrimaaaaaaaaa por não o comemorar com a minha Mãe e Mana (ambas com direito ao feriado em terras Ribatejanas), eis que entro nas instalações da faculdade, olhos baixos, e deparo com uma realidade alternativa - a da Cidade.
À porta da escola, uma velhota com um caixote cheio de ramos da espiga pré-feitos.
Perplexa, segui o meu caminho para as aulas, que no meu aniversário decorriam sempre no bar.
Alguns minutos depois, os meus colegas (granda Seita!!!) ofereceram-me como prenda de aniversário TODOS os ramos da velhota.
Contra-senso.
Prenda original.
Sorriso nos lábios.
E boa sorte todo ano.
Ficaram pendurados atrás da porta, comme il faut.
Este ano, só se pendurar um corno, sempre é mais fácil de o achar em Lisboa num dia feriado no Ribatejo.
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